Nos grandes lábios do éter

Como atravessar eras, fazer falta, beijar os grandes lábios do céu, sentir completude, dormir com a felicidade, transcender falhas, corrigir acertos, experienciar os erros do amor, chorar de felicidade, invadir o espírito alheio, fazer sexo com a alma do público, reincidir nos ápices, reviver toda a contemplação, estender segundos infinitos por meses, não tirar o sorriso da cara, rememorar todos os pores do sol? Como realmente fazer a diferença na vida das pessoas pelas quais temos apreço, como ser alguém melhor, como evoluir, como ser sincero sem magoar, como dar um tiro na cara do ego, degolar a solidão, desmembrar a tristeza, esquartejar a reatividade? Nos grandes lábios do éter rezam os gurus que a fonte criadora é matéria e antimatéria; o vértice da dualidade, a bipolaridade universal. Mas creio que mesmo os grandes direcionadores estão vagando sem bússola nesse mar de filosofias furadas, ideologias hipócritas baseadas em fraudes monumentais e falsidade solene. Nem discorro sobre as profundidades abissais como talheres no fundo da pia e todo seu lodo noturno, sua amálgama de buscas sem fim por prazeres descartáveis e validações concedidas por aqueles que realmente não nos acrescentam uma nesga de um nirvana contemporaneamente ditatorial e míope - falo apenas do que observo. Quero ganhar o mundo sem perder a alma, mas as devassas ecumênicas discordam do meu ponto de vista, da minha falta de parágrafos... Há milênios não bolino o papel com a caneta porém o sentimento está lá, mais vivo que nunca, como um monstro que cresce no escuro e se alimenta de banimento e ostracismos impostos. Nunca pedi muito, só que não me confundam com a primeira pessoa. Seria tudo tão mais fácil se... Se porra nenhuma... Nos rincões cósmicos da mente há tantas indagações que fazem meus joelhos doerem a ponto de pedir arrego para essa passagem física, mesmo sendo indiferente ao que dizem ser do espírito. Em dúvida vos digo: quero mesmo é beijar a boca da vida como se a amasse verdadeiramente. Receber um boquete molhadinho do universo. Gozar nas últimas consequências. Mas o que temos para hoje é um destino solitário em uma estrada vazia e esburracada... Faz frio? Já nem sei. Odeio que os ares se condicionem como esses novos tempos. Os cachorros de rua já nem latem mais. O espírito do tempo teve mais uma overdose e decidiu ir à missa. Eu sinto chamas. Quero arder de ébrio sem ter medo de abraçar o capeta. Quero voar sem rumo. Pousar em outras terras. Ver que ainda existem humanos sedentos por veracidade e calor... Mas meu ego diz que esse texto não é meu estilo. Minha mente quer que se foda. Minha consciência não sabe de onde saiu tudo isso. Minhas mãos e a vontade de sair por aí não param de me incomodar... Queria não me preocupar com o estilo, mas a voz que me acorda durante as madrugadas não deixa... Há adversidades que talvez sejam inexistentes, mas como beijar o céu sem levar pipoco na cara?  Como beijar os grandes lábios do éter, incólume???