Virada sobre lençóis Califórnia
A virada à lá cultural diz:
A megalópole está em chamas, os ânimos estão exaltados, os ônibus abarrotam avenidas, transeuntes embrenham-se no matagal de vendedores das calçadas cheias de desocupados e ocupados indo e vindo para não sei onde; bonés von-dutch em cabeças idiotas e nós ali no meio, contrariando o frenesi calamitoso da grande cidade. Cerveja e livros, aperto nas coxas e destino. Ipiranga, mas não até a São-João. Lugar secreto onde a virada cultural custa 32 reais até as seis da manhã. Escolhida dentre muitas. Nada de preocupações estúpidas, apenas você e eu num mesmo ideal sob aquele chuveiro quente, num quarto com cheiro de mofo enquanto sua língua e lábios encontravam e deslizavam sobre meus pontos g’s, h’s, i’s, j’s. Ela diz: “os bobões estão lá fora perdendo de fazer isso” (ela disse o que eu pensava). Horas e pausas para pequenas confissões e duchas rápidas no chuveiro quente. Virada que durou das nove da noite às cinco e vinte da madrugada.
A professora de literatura disse adeus enquanto um idiota metido a besta, projeto escarrado de escritor de calça larga tomava uma coca-cola gelada e seguia quase cambaleante ao “Jd.Brasil 2181”, ouvindo ao fundo a voz de Elza Soares cantando a carne ao vivo e a cores.

Ela disse: “Me escreve (um email)”. E eu agora digo: “Não vou te escrever, vou escrever para você... sem preocupações, sem medo de se entregar para a vida, apenas EU, para você”.