Infinitivo
O astro maior diz:
Arrombarei a porta de seu mundo e invadirei seu universo de um metro e sessenta e sete centímetros.
Insano eu, pegando velocidade no vácuo-rastro de suas pegadas, indo em direção de sua casa, pulando o muro de seu quintal de cometas, pisando em seu jardim de estrelas, me embrenhando em seu varal de galáxias, chutando o focinho de seu cachorro de Andrômeda para longe, atravessando sua janela de nebulosas para cair na sua cama de constelações e penetrar em seu buraco negro!
Sangue azul
O arauto anuncia:
Salvem a Rainha, pois ela está viciada em crack e trocou a coroa de ouro por duas pedras de diamante.
O Rei abusa sexualmente de suas fiéis servas de setenta e um e súditas de quatorze, pondo lhes o cetro real no buraco da hóstia que era comida pelo padre para que os cristãos não soubessem que tal dama já não era mais pura.
A Princesa anda pelas ruas do vilarejo apoiando o corpo em qualquer janela de carroça que lhe ofereça alguns dobrões de ouro e engole qualquer espada de qualquer cavalheiro.
Este nobre sangue azul drogado que escorre por meu pulso após o corte que fiz a mando de uma feiticeira dona da casa de favores. Escorre azul e cristalino como uma cachoeira de mentiras.
O cofre de paixões turquesa
O bandoleiro diz:
Mãos ao alto... É um assalto!
Põem seu coração na sacola... Rápido!
Abre caixa registradora e me dê um anél com meu nome gravado... Anda!
Vai, vai, vai... Abre esse cofre e me passe seus segredos mais íntimos.
Mande sua razão calar a boca e deixe seus sentimentos dizerem apenas o necessário!
Deite no chão e peça para que eu te possua sem dar um pio ou mando o cupido estourar seus miolos...
Abra sua porta dos fundos e deixe-me penetra-la lascivamente...
Escada para o saber
O fugitivo do hospício diz:
Na beira da praia Bradley Nowell me passou uma ponta e disse: “é no rabo da cobra que está o veneno, duuude!”.
No bar requintado de um bairro semi-nobre Billie Holliday me disse: “hey Maick, easy living... tome mais um drink para esquentar a noite e fazer charme para as garotas gatão”.
Fred Durst em seus bons tempos de revolta me disse: “joga gasolina no carro dele, põem fogo e joga ele da serra”.
O velhinho que limpa a biblioteca me disse: “pede para a Ana pegar o Dom Quixote, ela está de saia e sem calcinha e não liga quando tem alguém debaixo da escada vendo suas partes!”.