Escola é o lugar onde o sistema premia aqueles que tem maior capacidade de repetir mentiras seculares e truques de dar a patinha... (na maioria, quase absoluta, dos casos). Existe uma disparidade abissal entre o tipo de ensino de uma escola pública em uma periferia em relação a uma escola particular de 1800 reais por mês. Muito se diz sobre "ser duas vezes melhor", mas compartilho, veementemente, da retórica abordada por Mano Brown, no começo de "A vida é desafio", em que ele indaga: "Como ser duas vezes melhor se estamos mil vezes atrasados? Quem foi o pilantra que inventou isso aí?". Por isso abordei, no roteiro de "Por cuecas e meias", a temática "oportunidade". Nesse roteiro não pensei nas técnicas que o curso de cinema me transmitiu, pensei em algo com um valor agregado violentamente superior a qualquer técnica: EU ESCREVI COM A ALMA. Coisa que a arte não tem mais, há tempos. Algumas vertentes artísticas contemporâneas andam como o sistema escolar: repetindo repetições como se fossem grandes vanguardas. Enfim. O tema implícito é: Como criar oportunidades se você vive em um entorno caótico onde a lei é a da selva, é a do cão; onde a única coisa em que se consegue pensar é em como pagar aluguel, como sair do SPC, como comer amanhã, como não levar tiro de polícia por ser negro, pobre, nordestino, um cara pardo num carro velho, enfim. Aí a arte fica na mão de, acredite, odeio essa moda de falar isso, mas como eu já falava sobre isso nos anos 90, quando ninguém abordava essa temática, então vou me dar a liberdade de falar: a arte está na mão de gente branca, privilegiada, desde a fundação dessa colônia que valoriza a imbecilidade e estrangeirismos imperialistas. As maiores oportunidades de arte, como retratei em "Por cuecas e meias" são de quem pode se dar ao luxo do métier social de "o dono da revista X mora no apartamento da frente", "meu cunhado conhece o dono de empresa X", "meu pai é amigo do dono da editora Y", enfim. E quando alguém que veio de uma situação desfavorável, começa a ter acesso à esse universo "superior" (superior entre inúmeras aspas), por maior talento que o mesmo tenha; por não fazer parte desse "jogo", as oportunidades que surgem são as migalhas que surgem, pois os donos do jogo, assim como as 13 famílias que dominam o planeta, só se relacionam, verdadeiramente, entre "eles". Eles preferem as indicações de seus patrícios(as), que dar uma oportunidade real, a alguém real, que vai fazer algo de VERDADE e com alma. É o que quem não tem qualquer resquício de arte nunca vai entender, não se trata de técnica, se trata de dar um jato de porra interdimensional onde nacos da sua alma escorrem pela mente alheia. A profundidade desse roteiro é grandiosa e me intriga, pois ninguém que o assistiu compreendeu isso, justamente por não terem esse tipo de sensibilidade psico/social e, ter que explicar em textão de blog é a demonstração mais clara e absoluta de como vivemos em tempos de um vazio digno de um vale das sombras. Eu me considero privilegiado, cresci em uma casa com muito livros, com um pai que tinha ímpetos violentos, mas me fazia assistir os documentários que passavam na TV Cultura, aos domingos, que estuda quase todos os dias (sei lá o que ele estuda, mas ele tá sempre lendo algo), que me deu o sobrenome Lênin (e através das minhas próprias pesquisas percebi que Lenin era só mais uma marionete dos donos do mundo, uma personalidade que aproveitou "as oportunidades"). E tenho algo intrínseco, que não considero sorte não, mas é algo que me fez conhecer e ser amigo de todo mundo que admirei nesse país. Respeito a teoria da lei da atração, mas acho que o que tenho é algo que vai além dessa alegoria (e aí entra meus pensamentos megalomaníacos). Sempre tive acesso à diferentes andares sociais nessa escadaria da vida, mas ando MUITO impressionado em como, nos últimos tempos, venho percebendo que as pessoas tem diplomas, viajam o planeta como quem vai daqui ao centro, essas pessoas, por mais retórica que possuem, por melhor que se expressem, por mais que pareçam ter um conhecimento profundo (por que se expressam MUITO BEM), elas tem muito poucas referências sobre, literalmente, sobre qualquer coisa, até mesmo das áreas em que são "especialistas". E o interessante de andar nesses andares mais altos das escadarias sociais é que até hoje nunca encontrei ninguém mais inteligente que um Fábio da Avenida Sanatório, que um Flávio Matos da Basílio Alves Morango, que uma Andrea Fernanda do Tucuruvi... Quando as pessoas da baixa receberem a informação correta e algum filho da puta os fizer ver e perceber que o que está na alta é vazio, insosso e não oferece ameaça nenhuma, além de deter poderes, que, na verdade, são mais imaginários que palpáveis, a coisa muda! Mas é como diz "A vida é desafio", estamos extremamente atrasados, mas não "estamos atrasados" em sentido literal, o correto é: nós fomos atrasados pelo topo de uma pirâmide sociopata que odeia quem não é de sua esfera social. Por isso sou avesso a coroas, diamantes, olho de horuz e pirâmides, pois são simbolismos que, quando usados por nós, aqui de baixo, é como se disséssemos: "amo meus donos", mas não vou entrar nesse quesito. Enfim, isso aqui não é uma epifania, nem indiretas, nem raivinha, pois minha opinião sobre isso é a mesma há mais de décadas! As raríssimas pessoas com quem posso desenvolver conversações mais elaboradas e que entendem o que é dito (as Andreas Fernandas e os Flávios da vida), são provas dessa minha visão que se arrasta pelos tempos. Vejo o mundo dessa forma desde 1991, sem ninguém ter pego minha mão e ensinado isso (agradeço muito ao Rap nacional da época e aos livros que haviam em casa). Enfim. O caso é que uma pessoa, que não é do meu círculo social, nem faz parte da minha rotina, mas talvez tenhamos uns dois amigos em comum no facebook, talvez um, veio me dar suas impressões sobre meu roteiro e percebi o quão vazias as pessoas estão, mesmo que elas pretendam te fazer um elogio. O quanto a "mensagem", que ali, é clara como a porra do dia na Antártida, não é enxergada. Enfim, pensei outra coisa, nada a ver. O quão essas pessoas da escada social/acadêmica tentam te classificar quando percebem que alguém, que na visão delas, deveria ser estúpida, tem mais conhecimento e referências que ela... Sempre rola alguma piadinha babaca, algo como um tiozão tosco soltar um "E aí, sangue bom" (mas como não sou idiota sei que isso é uma subliminar que te classifica perante os alheios) , enfim, parei kkkk. Deve ser triste se sentir inferior perto de alguém que você inferioriza, né? kkk. Enfim. Enfim mesmo. NO MAIS, como diria E.T. Bilú: Procurem conhecimento, vocês estão precisando, rs.
Trecho de Negro Drama, Racionais MCS
"Hei, senhor de engenho, eu sei bem quem você é
Sozinho cê num guenta, sozinho cê num entra a pé... Agora tá de olho no dinheiro que eu ganho? Agora tá de olho no carro que eu dirijo? Demorou, eu quero é mais, eu quero até sua alma. Aí, o rap fez eu ser o que sou... A geração que revolucionou, a geração que vai revolucionar. Cê tá dirigindo um carro, o mundo todo tá de olho em você, morô? Sabe por quê? Pela sua origem, morô irmão? É desse jeito que você vive, é o negro drama. Eu num li, eu não assisti, eu vivo o negro drama. Eu sou o negro drama, eu sou o fruto do negro drama... Porque assim é que é, renascendo das cinzas
Firme e forte, guerreiro de fé. Vagabundo nato".
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